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Como a panela de uma avó no Recife deu origem ao som do verão brasileiro de 2020

JS, DJ de brega-funk, tem 4 hits no top 20 atual, mais que Anitta ou Marília Mendonça. Ele criou base de ‘Tudo ok’ e outras batendo em panela da avó dele. VÍDEO e PODCAST contam história.

Uma panela é a base da receita musical que mais rende sucessos no Brasil neste verão. O DJ pernambucano JS O Mão de Ouro assina quatro músicas no top 20 de streaming atual: “Hit contagiante”, “Surtada”, “Sentadão” e “Tudo ok”. Ninguém tem mais faixas do que ele neste ranking hoje.

O brega-funk, ritmo do Recife que dobrou de audiência em 2019, tem um som “de lata”, com uma batida metalizada. JS criou suas bases batendo com uma colher de pau em uma panela de sua avó. Depois, processou esse som em um notebook antigo, usando lições de tutoriais de YouTube.

Na mão de JS, tudo vira brega-funk: panela, latido de cachorro, mensagem de WhatsApp e vozes de cantores qualquer estilo, seja sertanejo brasileiro ou pop australiano.

G1 encontrou JS em um estúdio na Zona Sul de São Paulo. O recifense se mudou para SP no final de 2019. Ele assinou contrato com uma agência paulista de funk e virou produtor requisitado do novo pop brasileiro.

A agência que o contratou, Los Pantchos, é da mesma equipe paulistana que contratou MC Loma, a primeira sensação nacional do brega-funk, em 2017.

A habilidade de achar músicos em ascensão, em especial em Pernambuco, faz empresa crescer. A casa em que JS trabalha é toda nova, com dois andares, várias salas e um estúdio moderno. Eles também alugaram uma casa próxima para o DJ morar, junto com outros músicos da Los Pantchos.

JS trabalha sem parar em novas faixas. A Warner Music encomendou a ele um remix do hit número 1 no mundo atualmente, “Dance monkey”, da australiana Tones and I. Ele também dá uma mão para sertanejos como Bruno & Marrone e Simone & Simaria.

Jonathan Ramos dos Santos tem 23 anos e cresceu no bairro de Jardim Paulista Baixo, em Paulista, na região metropolitana do Recife. Ele foi criado pela avó, Maria, aposentada.

A mãe era cabeleireira e morreu quando ele tinha cinco anos. O pai é pedreiro e mora na casa ao lado da avó. A família tinha o suficiente para viver, mas nada mais do que isso, conta o DJ. Ele nunca teve aulas de teoria musical.

Quando criança, o pai colocava para tocar em casa forró e guaracha, ritmo cubano precursor da salsa. JS também ouvia brega romântico – antes de o estilo ganhar sua variação mais dançante nos sucessos atuais.

Apesar do nome brega-funk, não foi só o batidão carioca que entrou na mistura com o brega. JS destaca influências caribenhas, como reggaeton e reggae. Também tem o tecnobrega do Pará e o trap dos EUA.

Quando JS tinha 17 anos e estava terminando o Ensino Médio, a mistura do brega-funk já tinha sido formada na cena musical do Recife.

“Tinha um computador parado em casa. Eu via DJs no YouTube fazendo montagens. Fui fuçando, fazendo os toques e comecei a tomar gosto por música. Era um notebook simples, travava mais que tudo. Eu não sabia nada sobre harmonia musicais, tons. Comecei a estudar. Foi tudo na raça”, diz JS.

Ele começou fazendo montagens com as vozes de colegas da escola, depois passou a oferecer o trabalho para MCs da comunidade. Chegou até o MC Troinha, um ídolo em Recife, e entrou na cena de brega-funk da cidade. Adaptou o som do jeito que deu.

“Já existia a ‘lata’ do brega-funk, que os produtores de Recife fizeram. Eu só absorvi as ideias deles e montei a minha lata. Eu pegava a panela da minha avó, ficava na frente do microfone batendo”, ele explica.

Ele gravou o som das colheradas na panela e passou para o computador. Deixou a batida mais “seca e limpa”, menos estridente. O som entrou na base que JS usa até hoje em suas produções, adaptada de forma diferente a cada música.

Há outros produtores de brega funk que falam da “caixa panela” como elementos de suas faixas. JS diz que colegas DJs usam canos e outros objetos para variar seus “kits” sonoros, mas não sabe se o processo de criação deles também chegou à cozinha.

‘Panelaço’ que deu certo

Foi um panelaço que uniu todas as tribos. As batidas na panela da Dona Maria aparecem, de formas variadas, em músicas que não param de tocar pelo país desde o ano passado:

  • Primeiro foi “Hit Contagiante”, que o JS fez com um amigo dele, o Felipe Original. É um remix de “Evoluiu”, do carioca Kevin o Chris.
  • Osremixes de brega-funk seguiram em alta. Ele refez o rap “Surtada” com Dadá Boladão, Tati Zaqui e o vocalista da música original, Oik.
  • O terceiro hit atual é uma canção nova, não remix. É “Sentadão”, parceria com Felipe Original e o carioca Pedro Sampaio.
  • A faixa dele que mais toca atualmente é “Tudo ok”, com o carioca Thiaguinho MT e a ex-sertaneja Mila.

Ele assina como intérprete todas essas músicas exceto “Surtada”, em que é creditado só como produtor. De qualquer forma, a panela da avó de JS está mais forte no top 20 atual do Spotify do que Anitta, que tem duas faixas, ou Marília Mendonça, com três.

Coloque tudo na panela e mexa rápido

Além da batida metalizada, há outros ingredientes importantes no brega-funk.

  • A guitarra e o baixo representam o antigo brega – mas feitos no computador, não gravados em estúdio.
  • A panela entra junto com um bumbo e outros eventuais “pontos” – sequências de elementos rítmicos que lembram o funk.
  • JS também gosta de usar o chimbal, um som de prato agudo e rápido, típico do trap, subgênero popular do rap dos EUA.
  • O músico ainda inclui linhas parecidas com as de contrabaixo que ele grava a partir de sua própria voz. É como se fosse um “beatbox” com melodia.

Todos os ingredientes são misturados de um jeito muito rápido. O brega-funk costuma ficar entre 160 e 170 batidas por minuto. É mais do que o já acelerado funk carioca em seus lançamentos a 150 bpm.

Arrocha-brega-funk

A mistura fica ainda mais rica em “Tudo ok”. A faixa junta o brega-funk com outro ritmo que faz uma ponte entre o Nordeste e o Sudeste: o arrocha-funk.

O arrocha, ritmo baiano, se uniu com o funk no Rio e rendeu um hit em bailes cariocas em em 2016, “Arrocha da Penha”.

O G1 já explicou o fenômeno e falou com um DJ em ascensão na época no Rio, Rennan da Penha. O futuro astro Renna falou na época que o arrocha-funk foi um sucesso, mas tinha sido atropelado no Rio pelo funk 150.

O arrocha-funk também teve seu momento em São Paulo, com hits do Jerry Smith. Mas, até agora, não tinha vingado tanto pelo Brasil tanto quanto o brega-funk.

Aí entra o carioca Thiaguinho MT. Ele viveu o breve auge do arrocha-funk no Rio. Depois, foi para São Paulo, contratado pela mesma produtora do JS. Foi ele quem escreveu “Tá ok” e compartilhou com o amigo mão de ouro a ideia de montar o tal arrocha-brega-funk.

Cachorro?

“Tudo ok” tem outra camada de som curiosa. São latidas de cachorro, intercaladas com o som da lata para dar “pegada”, define JS.

Mas neste caso não é o cachorro da avó dele, nem um “pet” conhecido. O DJ encontrou um som de latido no YouTube mesmo – e incluiu na batida.

A panela, o latido e os remixes de qualquer estilo indicam a habilidade de JS: transformar qualquer barulho em brega funk. “Qualquer som podevirar ‘ponto'”, ele diz.

Fonte: G1.Globo

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